Análise: Ao contrário de Bolsonaro, Lula fala sobre agenda mundial

A ponte entre o discurso do atual presidente e de seu antecessor é que um se referiu ao outro, nêmesis que são, mutuamente

Valor Economico

2023-09-19 16:00:32

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Há uma diferença gritante entre o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) e a primeira fala do ex-presidente Jair Bolsonaro na instituição, em 2019. Há também uma semelhança na forma, mais sutil.

Lula em seu discurso ultrapassou as fronteiras nacionais. Obviamente, não faltaram lemas políticos seus como “o Brasil voltou” e “a esperança venceu o medo”, mas ele fez um pronunciamento sobre a agenda mundial, para o público internacional e dentro de uma perspectiva mais alinhada com a esquerda.

Discorreu longamente sobre a pauta ambiental e mencionou os golpes na África e a guerra na Ucrânia, mas colocou a desigualdade social como desafio global máximo, acima dos outros.

“Se tivéssemos que resumir em uma única palavra esses desafios, ela seria desigualdade. A desigualdade está na raiz desses fenômenos, ou atua para agravá-los.”

Nessa mesma linha, pediu liberdade para o ativista Julian Assange e o fim do bloqueio econômico dos Estados Unidos a Cuba.

Bolsonaro em 2019 foi acima de tudo provinciano e defensivo. Foi um discurso para o público doméstico. Mencionou em seu discurso a facada de Juiz de Fora, prestou homenagem ao então ministro de Justiça e aliado Sergio Moro e até citou o versículo João 8:32, “conhecereis a verdade e ela vos libertará”, passagem bíblica da qual se apropriou e transformou quase em slogan de campanha. Foi também um discurso de defesa, no qual se esforçou em dizer que o desmatamento na Amazônia não é um problema grave.

A ponte entre o discurso do atual presidente e de seu antecessor é que um se referiu ao outro, nêmesis que são, mutuamente.

Lula o fez de forma velada. Disse que, dos escombros do neoliberalismo, 'surgem aventureiros de extrema direita que negam a política e vendem soluções tão fáceis quanto equivocadas”.

“Muitos sucumbiram à tentação de substituir um neoliberalismo falido por um nacionalismo primitivo, conservador e autoritário.”

É uma carapuça que serve bem ao ex-presidente americano Donald Trump, mas corresponde a uma descrição de Bolsonaro.

Bolsonaro em 2019, com a falta de sutileza que o caracteriza, mencionou textualmente Lula como criador do Foro de São Paulo, ao qual definiu como uma organização criminosa.

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