Internautas diziam, nos primórdios das redes sociais, que o apresentador escondia seu herdeiro por vergonha
Jô Soares, morto aos 84 anos nesta sexta-feira, dizia ser um influenciador analógico. Não tinha perfil em nenhuma rede social. Ainda assim, não conseguiu escapar das fake news, antes mesmo de elas existirem —ou melhor, de ganharem um nome.
Ainda nos anos 2000, não era raro esbarrar em publicações que diziam que o apresentador escondia do público seu único filho, Rafael, fruto de seu relacionamento com a atriz Therezinha Millet Austregésilo. Isso porque Rafael Soares, que morreu aos 50 anos vítima de um câncer no cérebro, nasceu com autismo.
Mas Jô não tinha vergonha de Rafa, do Rafinha, como costumava chamar seu herdeiro. Ele sempre era visto passeando com o garoto em todo tipo de ambiente, de livrarias ao Jockey Club e ao Clube Campestre.
'Sei que muitas pessoas falaram que reneguei meu filho. Não posso negar que a maneira como o Rafinha veio ao mundo mexeu muito comigo. Mas as pessoas não conhecem o dia a dia de uma criança autista, o seu horror ao contato com outras pessoas, a sua necessidade de uma rotina rigorosamente igual todos os dias. Ele não queria ver o mundo e não queria que o mundo o visse', escreveu Jô em 'O Livro de Jô', o primeiro volume de sua autobiografia.
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Há cerca de cinco anos, em entrevista a Pedro Bial, no Conversa com Bial, Jô relembrou as acusações e as refutou mais uma vez.
'Eu jamais esconderia meu filho. Tinha orgulho do talento musical que ele tinha. Ele fez a música do meu show, tinha um dom, mas a incapacidade de produção era total. Uma capacidade para aguentar sofrimento. Ele ainda foi presenteado com câncer violento e quando começou a fazer o tratamento de quimioterapia, um enfermeiro, na hora de aplicar, errou e fez uma queimadura no Rafinha. Queimou o peito todo dele.'
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Quando Rafa morreu, em 31 de outubro de 2014, Jô abriu seu Programa do Jô na TV Globo com uma longa dedicatória.
'Passou a vida inteira na realidade do seu próprio mundo com corpo de adulto, coração e alma de criança. Tinha ouvido absoluto, por isso tocou piano. Adorava música, mas sua grande paixão era o rádio. Tinha sua própria emissora em casa, cujo alcance eram as pessoas que o visitavam.'
'Mesmo operando em casa, ele não deixava de ser um DJ muito competente. Trocava experiência e conhecimentos com o radialista Roberto Canázio da rádio O Globo do Rio, seu amigo que ele adorava e era adorado de volta. Chamava de colega.'
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